Cientistas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, estão investigando maneiras de remover o dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa da atmosfera terrestre e acreditam que as cinzas vulcânicas podem desempenhar um papel importante nesse processo.
Uma equipe da Escola de Ciências Oceânicas e da Terra da Universidade modelou o impacto da dispersão de cinzas vulcânicas de um navio em uma área do fundo do oceano para ajudar a amplificar os processos naturais que retêm o CO2 no leito marinho. Eles descobriram que a técnica tem o potencial de ser mais barata, tecnologicamente mais simples e menos invasiva do que outras técnicas para remover gases nocivos, e as descobertas foram publicadas na revista Anthropocene.
“Como resultado de evidências esmagadoras, os políticos começaram a tomar medidas para incorporar a redução de emissões em políticas públicas, como no Acordo de Paris de 2015, cujo objetivo a longo prazo é garantir que as temperaturas médias globais não ultrapassem 2°C acima dos níveis pré-industriais. No entanto, está ficando claro que, para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, será necessária a remoção ativa de gases de efeito estufa (RGE)”, explicou Martin Palmer, coautor do estudo e professor de geoquímica da Universidade de Southampton.
As técnicas de recuperação de gás natural (GGR, na sigla em inglês) removem dióxido de carbono e outros gases da atmosfera, reduzindo assim o efeito estufa e, a longo prazo, desacelerando as mudanças climáticas. Existem inúmeras abordagens potenciais para a GGR, desde as mais simples, como o reflorestamento, até as mais complexas, como a remoção ativa de CO2 da atmosfera.
Os autores do artigo observam que a maioria dos vulcões fica perto dos oceanos e, todos os anos, milhões de toneladas de cinzas vulcânicas caem neles e se depositam no fundo do mar. Uma vez lá, aumentam o armazenamento de carbono nos sedimentos marinhos e reduzem os níveis de CO2 na atmosfera. Isso é importante porque os oceanos são o maior reservatório de CO2 produzido pelo homem na Terra.
“Uma das maneiras pelas quais os oceanos retêm o CO2 é armazenando-o em sedimentos no fundo do mar como carbonato de cálcio e carbono orgânico. Em nosso trabalho, discutimos como esse processo natural pode ser intensificado pela adição artificial de cinzas aos oceanos”, disse Jack Longman, autor principal e ex-assistente de pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Southampton, que agora ocupa um cargo no Instituto de Química e Biologia do Ambiente Marinho (ICBM) da Universidade de Oldenburg.
Os cientistas modelaram o efeito da distribuição de cinzas vulcânicas de um navio para uma área do oceano. Os resultados sugerem que esse método poderia sequestrar até 2.300 toneladas de CO2 por 50.000 toneladas de cinzas lançadas, a um custo de US$ 50 por tonelada de CO2 sequestrada – muito mais barato do que a maioria dos outros métodos de remoção de gases de efeito estufa. Além disso, a abordagem é simplesmente uma ampliação de um processo natural, não envolve tecnologia cara e não requer a reutilização de terras agrícolas valiosas.
Os cientistas observam que são necessárias mais pesquisas para testar a eficiência da deposição intensificada de cinzas nos oceanos e para garantir que não haja efeitos colaterais imprevistos, mas os indícios iniciais sugerem que ela poderia ser aplicada de forma fácil e barata em muitas áreas do mundo.